Pinguim apresenta: dos matches que a vida (ou a viagem) dá

16 de Fevereiro de 2022

Passava das 22h, talvez. Com sorte, em maio, as temperaturas pelas bandas da Costa Amalfitana, na Itália, já são mais amenas. Só por isso, não sentíamos tanto a friagem das roupas de banho úmidas do mar de Positano, mas o sal no cabelo e a areia no corpo, criando um estilo à milanesa, nos colocaram para acelerar o passo nas Havaianas resvalantes rumo ao carro alugado – que nos prometeram um Fiat 500, mas era um Corsa – para fincar o pé rumo a Sorrento, onde estávamos hospedadas de favor.

 

Só que ao chegarmos no local onde havíamos estacionado e vibrado (nossa, uma vaga perfeita!) após muito rodar por aquelas ruelas, o inesperado: tínhamos parado, sem perceber, em uma vaga de morador. Tem disso lá. E mais: o proprietário do espaço não era dos mais dispostos a aceitar as desculpas em looping de “perdão, não vi” dos turistas. Era de agir. Estacionou o carro dele de maneira que bloqueasse o nosso e se trancou dentro de casa. Para aumentar o terrorismo, apagou todinhas as luzes de fora e de dentro, como se estivesse se enfiado de tampão de ouvido embaixo das cobertas. Virem-se, a escuridão dizia.

 

Antes de seguirmos no perrengue chique, vem cá: você já dirigiu em uma rua estreita? Bem estreita? E com curva? Sem retorno? Eu não. Mas a Camila, minha parceria de viagem que pilotava a boleia, sim. E pensa que as vias da Costa são tudo isso e mais um pouco, um desafio até para quem é bom de braço. Foi justo isto que nos conectou para início de conversa. Se você já leu algo a respeito do meu livro “Quem é a Estrada?”, deve saber a estas alturas que a minha ideia era viajar sozinha.

 Mas, lá pelas tantas, em algum lugar da Europa, recebi um convite de uma seguidora para me hospedar, sem custo algum, na casa dela – que estava desabitada no momento – em Sorrento. Logo em seguida, a Camila, que até então era uma desconhecida, mandou um e-mail relatando que acompanhava minha aventura de longe e que estava passando uma temporada em Milão. Tinha sofá para mim lá, caso eu quisesse. De bom grado, assim, sem me conhecer. Minha vez de convidar: que tal, então, se depois do “couch surfing”, seguíssemos juntas para a Costa?

 

 Foi assim que estas duas anônimas se viram juntas nesta situação constrangedora na noite positana. E após uma meia hora entre bater na porta dos fundos, tocar a campainha na entrada e até ser assustada pelo gerente do hotel ao lado de que o homem poderia demorar dias para atender só de raiva, fomos agraciadas com a imagem do cidadão descendo as escadas de mãos no bolso e cara amarrada. Depois de um bom sermão embaralhado aos nossos pedidos constantes de desculpa, esperamos o carro dobrar a esquina para explodir uma gargalhada – um misto de nervosos com bobeira – mas que só finalizou ao chegar em casa.

 

 Antes disto, teve correria para não perder o voo – e voo perdido, em consequência. Caminhadas pelos jardins da casa de chinelos e meia em busca de alguma pontinha de sinal de 3G para se comunicar com quem estava longe. Contas e compras compartilhadas. Muito papo a respeito de angústias, amores e sonhos. Eu espantando as lagartixas para ela. Ela me ajudando com o fogão. E a melhor parte: dividir as impressões a respeito dos passeios, dos visuais, da estrada, do mundo.

Ah, e um tempo das selfies, nada como ter uma amiga para tirar uma foto (ou mil, até acertar o ângulo certo) da gente. Rememoro todos estes episódios com muita ternura e o melhor, frequentemente, ao lado da Camila, que hoje é uma das minhas melhores amigas e foi até minha madrinha de casamento dois anos depois. Dos matches que a vida dá.

 

Ah, mas isso foi em 2017. Ainda não existia o Pinguim App, que atualmente tem justamente o papel de conectar viajantes que queiram se encontrar para destinos em comum, necessidades parecidas e vontade de compartilhar a estrada. Fica a dica. Uma viagem tem o poder de criar laços que são para uma vida. Ou por um momento inesquecível.

*Texto em formato branded content para Pinguim App.

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