05 de Fevereiro de 2020
Sou de fugir. Admito. Quando estou muito triste, durmo, fecho a persiana, puxo as boletas para esquecer. Quando estou indecisa, desapareço, ignoro o Whats, evito encontros, quero ignorar o assunto. Quando tenho uma tarefa difícil a ser executada, então? Procrastinação, adiamento, faço desvios e curvas para todos os lados. E quando estão todos os sentimentos embolados e misturados? Viajo. Já é até motivo de riso entre os mais próximos quando o furacão se aproxima e eu enrijeço o dedo indicador e exclamo: "tive uma ideia, vamos fazer uma viagem, assim, de uns três meses". Estado de fuga.
Depois da volta ao mundo, essa ideia de escape trimestral nunca mais colou. Mas, dou um jeito. Escapo de fininho para algum destino – nem que seja a 30 quilômetros de casa – para me colocar em um novo plano e viver uma realidade diferente por, no mínimo, três dias. Sim, é confirmado. Demoramos, pelo menos, 48 horas, para mudar o nosso "modus operandi" e nos desconectarmos do lugar que deixamos para começar a absorver o destino em que chegamos. Costumo escolher locais que me tragam paz – tipo, esconderijo, mesmo, sabe? Espaços com natureza, barulhos bons e redes para se balançar. E, foi assim que o Rosa se estabeleceu na minha vida. Como aquele lugar para qual eu gosto de fugir para descansar a mente e o corpo.
O Rosa tem um clima que remete aos dias em Bali ou nas ilhas tailandesas. Com altos e baixos em paralelepípedos, mais espaço para pessoas e bicicletas que carros, artesanato local e um centrinho cheio de cantinhos especiais para serem descobertos e lâmpadas acesas entre bandeiras que lembram as de São João. O Rosa tem uma praia curta em extensão, com mata nativa na volta, sem calçadão, com acesso a uma lagoa e diversas entradas para trilhas. É o tipo de praia que dá gosto de chegar para uma caminhada de moletom no inverno. Se chove, a água ecoa nas folhas das árvores, nos pássaros, na madeira. E traz cheiro de terra molhada, que, para mim, é o aroma da vida.
É assim que os lugares para os quais gostamos de fugir – que se tornam nossos espaços secretos – trabalham para liberar a nossa mente e acarinhar nosso corpo. Com elementos de identificação que nos puxam a voltar, voltar e voltar. E agora, uma curiosidade que interliga essa narrativa: foi no Rosa que o Ida e Volta nasceu. Em um final de semana entre amigos, de frio e chuva incomparáveis ao furacão que havia chegado para ficar na cabeça desta jornalista. Foi lá que me dei conta que não eram todos que amavam a praia com chuva. E deu vontade de escrever sobre o impulso em dançar que veio quando o vento deixou o mar mais cinza. Foi assim. Em meio a fuga, que cheguei aqui.
Por isso, neste ano que se inicia, só posso desejar mais momentos de fuga para vocês. Para abrir espaço entre todas as incursões que nos impedem de arrumar as malas.
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