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    Egito: a conclusão de que evoluímos pouco

    20 de Setembro de 2019

    Pirâmides e esfinge. Estão aí dois dos principais motivos que levam milhões de turistas em peso ao Egito a cada ano que passa - e que me mobilizaram também. Sei que há uma onda atual entre a gurizada com uma série chamada Os 10 Mandamentos, e que o Egito está, mais do que nunca, em alta. Não à toa,meu sobrinho, do auge de seus quatro anos, pedia por fotos da minha viagem diariamente citando nomes como Nefertari, Ramsés e Tutankamon com mais conhecimento do que eu ao longo destes 32 anos. Mas eu, vamos lá, queria mesmo era ver as pirâmides, a esfinge, o Rio Nilo e, vá lá, o deserto.

    Só que o Egito é o berço da civilização humana. E é inevitável visitar o país e não ser impactado por anos de história, criação e cultura. Minha memória não costuma ser das melhores para gravar os nomes dos personagens, mas a cada desenho na parede, a cada construção nova e a cada descoberta pelos templos e tumbas meu queixo caía alguns centímetros a mais ao pensar há quanto tempo aquela história havia sido executada.

    E vou dizer o porquê: as cadeiras, as joias, as camas, os adornos, as armas, os barcos, as moradias e até os chinelos de 400 anos A.C — mínimo — diferenciam-se pouquíssimo dos que temos atualmente. E as profissões? Boa parte inventada por esta época: alquimista, estilista, arquiteto, engenheiro, jornalista, escritores e até chef de cozinha, com receitas bem elaboradas. Os artistas, então? De deixar qualquer expositor do MoMA comendo areia.

    Pela distância do tempo que correu de lá para cá cheguei à conclusão que a espécie enfraqueceu. Ao comparar o que tínhamos na antiguidade egípcia e o que obtivemos com a suposta evolução humana percebo que pouco se realizou. Roda, eletricidade, meios de transporte mais ágeis e tecnologia são fichinha perto da criação rústica do egípcio, que usava apenas o artesanal para executar o mental. Eaí, faço outro link, o do bloqueio da criatividade. O do roubo da ideia. Literalmente.

    O Egito é o país que mais foi saqueado no mundo. Um exemplo: o obelisco que você tanto tira foto na Place Concorde, em Paris. Toda a ala expositiva que faz referência ao Egito no Louvre também. Os europeus carregaram a riqueza alheia e, de lambuja, a história, em massa para as suas bandas e, dia desses, a múmia de Hatshepsut, a primeira feminista do mundo, estava sendo leiloada na internet. O Egito parou. E pensem o quão significativo é isto: o berço da civilização humana sofreu o maior roubo de que já se teve notícia. E estacionou. A pobreza é assistida ao vivo e a cores pelas ruas, a educação das crianças foi substituída por trabalho infantil no pior estilo "pega turista" e a corrupção chega a um dos índices mais altos do planeta.

    Nesta viagem, leio um livro de uma médica especialista em Cuidados Paliativos chamada Ana Claudia Quintana Arantes em que ela cita que o humano é a única espécie que vem acompanhada de um verbo: ser. Você precisa ser humano. Precisa executar. E, cara, a maioria não consegue conjugar. Deixei o Egito rumo à Jordânia introspectiva. Em silêncio. Remoendo o conceito de bloqueio criativo, de corte de evolução e do como é insuportável assistir o crescimento do outro sem querer interferir, copiar, "melhorar". Roubar. Trapacear. Destruir. Quebrar.

    Não sou especialista em História, Egiptologia ou Arqueologia, mas posso sentir que é triste o que fizeram ao Egito. Observar como o berço da civilização, que construiu uma espécie, sobrevive hoje, aos trancos e barrancos, é um tanto esclarecedor para entender o porquê de evoluirmos tão pouco. Prova disso é que de tão focados no ouro das tumbas, até hoje não descobrimos como foram construídas as pirâmides em um tempo sem cimento, máquinas e guindastes. Porque sim, o foco tá desfocado. Toma esse xeque-mate egípcio, mundo.

    *A jornalista viajou ao Egito a convite da Agência Diário de Bordo.

    -> Veja as dicas de roteiro pelo Egito.

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