Pinguim apresenta: O match da Maurens e da Pia e a essência feminina

03 de Março de 2022

“Embora o exílio não seja algo que se deseje por diversão, há um ganho inesperado nele: são muitos os presentes do exílio. Tira a fraqueza a tapas, faz desaparecer as lamúrias, habilita a percepção interna aguda, aumenta a intuição, confere o poder da observação penetrante” (Clarissa Pinkola Estés em Mulheres que Correm com os Lobos)

Talvez, inconscientemente, Maurens já estava imbuída por Mulheres que Correm com os Lobos, a bíblia do sagrado feminino publicada no final dos anos 80 pela psicanalista Clarissa Pinkola Estés, quando pegou a estrada, dirigindo sozinha, independente, rumo a Guarda do Embaú. Viagem, essa, fruto de um impulso ditado pela tristeza, que lhe colocou a pesquisar sem muitos critérios um espaço para se hospedar na praia catarinense e, 418 quilômetros depois, lhe jogou em uma rede no pátio da casa da Pia e do Damian, um casal de argentinos que recomeçava a vida no Brasil.

Tomada de algumas dores particulares desde sua partida do país vizinho, Pia se tornara sensível à melancolia alheia. Não pensou muito antes de desacomodar Maurens do balanço anestésico da rede. Quer comer uma pizza conosco? E nada como muito carboidrato, queijo e molho de tomate para revigorar um estômago e amansar um coração. Logo, a gaúcha compartilhou sua história e o motivo da viagem: a perda recente do pai e a decepção com um emprego que terminou em um pedido de demissão abrupto. As estradas se cruzam por diferentes fatores em uma jornada – direção, vontades, amores – mas, sem dúvidas a dor é um canal importante de conexão imediata.

Pia tratou logo de colocar Maurens embaixo do braço e levá-la ao Rio da Madre, mais especificamente a um ponto de encontro marcado por uma árvore em que mulheres se reúnem para ler, dançar, conversar e se conectar com a alma feminina. “Foi uma ligação muito doida”, Maurens sorri quando lembra, “como se fôssemos íntimas há muito tempo, ou como se ela fosse uma irmã mais velha”. Nos dias seguintes, o que não faltou foi muito diálogo em roteiros compartilhados. A viagem que era para ser solo, virou um elo entre duas mulheres. Ah, e é esta a hora que devo lembrar o leitor da existência do Pinguim, o aplicativo que conecta viajantes de diferentes lugares para partilharem vivências, experiências e a jornada. Baixe agora para entender ao que me refiro.

Aliás, Maurens foi o Pinguim da mulherada, viu? Depois de descobrir a Guarda como uma espécie de reduto da mulher selvagem, já levou outras tantas amigas para conhecer a Pia e fazer um roteiro que explora a essência da psique feminina. A dor acalmou um tanto e a frustração com o cosmos também: “A Pia me fez ver que o mundo é um lugar bom, que as pessoas podem, sim, acolher e ser casa”.

Vamos encerrar com Clarissa?

“Ser forte não significa exercitar os músculos. Significa encontrar seu próprio brilho sem fugir, vivendo ativamente com a natureza selvagem de uma maneira própria. […] ser capaz de aprender, ser capaz de defender o que sabemos. Significa se manter e viver”.

Siga a @fepandolfi no Instagram