03 de Outubro de 2017
Aos 30, há uma certa cobrança, até normal para a sociedade atual, de que eu não deveria mais estar solteira. Quando comecei a anunciar a ideia de viajar o mundo, a maioria das pessoas acabava caindo naquele clichê: vai se apaixonar no caminho e não voltar. Não, gente. Não. Esse era o último objetivo. Na Europa, por exemplo, minhas paradas nos países eram no máximo de cinco dias e quase não saía à noite. Em viagens a gente precisa escolher entre a noite e o dia – quando um é vivido intensamente o outro leva 7 a 1.
Não é que eu evite relacionamentos. Se acontecer, maravilha. Mas meus olhos não estão pinçando homens interessantes estrada afora: é uma fase em que estou tão voltada para mim que acaba sobrando pouco espaço para o outro. Contudo, para a alegria da torcida, aconteceu. Nesta segunda parte das andanças, que ando mais tranquila e acredito que aberta a aproximações, conheci alguém diferente. Ao contrário dos outros caras que cruzaram meu caminho, normalmente em bares e baladas, o Richard (vamos chamá-lo assim) pechou comigo na academia. Eu estava imersa no meu fone, sem olhar para o lado e nem muito a fim de conversa. No entanto, ele pediu uma dica da esteira e conversa de ida, conversa de volta, me adicionou nas redes sociais e acabou me convidando para jantar.
Convite aceito. Sendo um homem de finanças e acostumado a reuniões-jantares, disse que iria me levar em um lugar legal, eu iria gostar. Eu percebi logo que era um cara acostumado às coisas boas da vida, de gosto refinado e que o jantar exigiria, no mínimo, um guardanapo no colo. Até aí tudo bem, de bons modos eu entendo. Só que, chegado o momento de me preparar para o encontro, deparo com a mala vazia de vestidos, salto alto e acessórios. Você sabe da importância daquelas horas de produção antes de esperar o encontro chegar. Sem falar naquele exato instante em que você segura a respiração e caminha em direção ao carro sabendo que está sendo observada. Adrenalina pura na expectativa da aprovação.
No final das contas, todo aparato é uma questão de segurança. Revirei a mala e achei uma saia que casei com uma regata preta – preto é preto, pensei –, a rasteirinha teve que substituir o salto e a maquiagem precisou ser a mais leve possível: rímel e base são o que resta (o blush já terminou). Brincos? Consegui perder o único par que trouxe. Unhas da mão sem esmalte, só dei aquela lixada para enganar, e cabelo solto – já que estou sempre com ele preso, quis me convencer que surtiria outro efeito. Ao parar na frente do espelho e me observar, suspirei. Não estava bom. Parecia que eu estava indo ao bar da beira da praia. Lembrei do meu closet abarrotado em Porto Alegre. Quantas vezes aqueles sapatos, bolsas e casacos me inflaram o peito. Deram-me força, estímulo e coragem. Na minha cabeça, tornaram-me alguém melhor.
Fruto da insegurança. Armadura. Maquiagem para disfarçar a espinha, escova para dar mais volume ao cabelo que acho escorrido demais, salto alto para amenizar minha baixa estatura, vestido para valorizar pernas, colo e corpo e tirar o foco do que realmente interessa: o conteúdo. Eu fui daquele jeito. Era o melhor que poderia dar. Isso ou desistir. No ponto de encontro, lá estava ele. De camisa, sapato e blazer. Minha primeira reação foi olhar para baixo, envergonhada. Vontade de voltar para a toca. Fingir um desmaio. Sei lá. Não dava, o Uber já estava esperando. Ele abriu a porta do carro e disse, acho que para seguir a cartilha: "Você está linda".
Sabe que, apesar da armadura que ele vestia, o nervosismo transpareceu. Fiquei eu, que nada mais tinha a esconder, descontraindo o ambiente até que ambos se sentissem à vontade. Porque o que resta no final é o papo, a afinidade, as risadas, as confidências. É isso que sobra na manhã seguinte. Só dá para seguir juntos se ambos conseguem sobreviver à companhia do outro sem Prada, Chanel ou batom vermelho. A análise é simples: procure lembrar dos seus melhores encontros amorosos e reflita sobre o que tornou a ocasião especial. Certamente não foi porque a pessoa estava linda.
Este site informa: usamos cookies para personalizar anúncios e melhorar a sua experiência no site. Ao continuar navegando, você concorda com a nossa Política de Privacidade.